Crônica
O outro ser e a Humanidade
Ana Rosenrot
Num mundo tão grande, cheio de
responsabilidades e afazeres, muitas vezes deixamos de refletir sobre um ser
muito importante em nossas vidas, alguém que nos faz rever nossos conceitos,
abrindo caminho para novas experiências, mostrando que a realidade pode ser
diferente daquilo que acreditamos como certa, como verdade irrefutável, nos
fazendo rever, reavaliar, tomar coragem para romper opiniões pré-concebidas e
com isso modificar as atitudes e criar uma transformação completa na
existência? Mas quem é capaz de realizar algo tão extraordinário?
A resposta é o outro.
Isso mesmo, aquele que não sou eu, o
que pensa e sente diferente, com pontos de vista e vivências próprias, o que
geralmente mostra que estamos errados.
O outro é incômodo, irritante, por
isso estamos sempre na expectativa de encontrar e se relacionar somente com
pessoas que acreditam e pensam como nós, os “grupos” fechados que criamos para nos
manter sempre na zona de conforto, em completa segurança, longe de “ideias” ou
“ideais” que possam afetar o equilíbrio íntimo que inventamos como forma de
vida; portanto o outro representa o chato, o que atrapalha, o insuportável, o
que devemos manter uma distância segura. Mas como é possível lidar com uma
situação tão confusa como esta?
Isso depende da visão de cada um, dos
outros, do mundo à nossa volta e das relações humanas como um todo.
Para esses questionamentos a palavra
usada é Alteridade, pois alter significa outro e alteridade o ser, o colocar-se
como outro; ao observarmos o outro percebemos a diversidade e a partir daí encontramos
e comparamos as diferenças entre os seres.
E então nos perguntamos: o correto é
seguir, imitar exatamente o que os outros fazem? É mais fácil ser como todo
mundo?Seguir um modelo de comportamento e pensamento?Será que os outros estão
sempre certos e eu errado, ou todos estão equivocados e eu certo?
Várias respostas podem ser datas para
essas perguntas, mas todas levam inevitavelmente a uma conclusão: deixar de ser
você mesmo.
Vivemos atualmente num mundo muito
diversificado, são centenas de crenças, estilos de vida, novas opiniões,
conceitos, tudo muito moderno, amplo, renovado; é preciso manter a mente aberta
para evitar o preconceito, para não acabar justificando erros e até delitos com
o falso conceito de “todo mundo”, o que incentiva a impunidade; juntamente com
a prática da alteridade é preciso pensar também na ética e na individualidade,
é preciso raciocinar e racionalizar, medir consequências, aceitar a
legitimidade do outro, suas posições, diferenças e aprender com suas
experiências sem se esquecer das próprias.
A vida é feita de escolhas sociais,
pessoais, coletivas; observar a importância não somente do outro, mas do todo
constitui o verdadeiro exercício da alteridade, que também é coragem, é
responsabilidade é realização e libertação, pois quando encaramos a vida de
forma global, tudo se torna possível, viável, coerente e principalmente humano.
Alteridade também é humanidade.